A baixa produtividade da mão de obra no Brasil
Redação
O resultado que se observa nos dias atuais é um abismo entre universidades e indústrias, que, salvo algumas exceções, não se comunicam e não interagem. Por isso, há fuga contínua de cérebros do país, ou seja, formamos profissionais altamente qualificados com um enorme custo para os cofres públicos.
Thomaz Eduardo Teixeira Buttignol
O Brasil é um dos países campeões da baixa produtividade, que, ano após ano, persiste em se manter em patamares muito aquém dos verificados nos países desenvolvidos. Uma das causas principais, sempre levantada por pesquisadores e estudiosos do tema, é a educação, refletida no baixo nível de escolaridade e na má qualidade da educação do ensino básico e médio.
A baixa produtividade traz consigo o achatamento dos salários e a proliferação de vagas de emprego de baixa qualificação. Isso é amplamente conhecido, porém a qualidade da educação do país persiste em permanecer nos últimos lugares no índice mensurado pelo Pisa, exame elaborado pela OCDE (Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica).
Além disso, há outra questão relevante que é o baixo nível de pesquisa e inovação no Brasil. Nossos índices de produção de patentes são muito baixos. A indústria, de forma geral, não realiza pesquisa, não procura inovação, não agrega cérebros (pesquisadores e profissionais altamente qualificados).
Tradicionalmente, a indústria viveu sob a proteção do Estado, com a imposição de barreiras tarifárias e um mercado cativo, livre da concorrência externa. Esse ambiente gerou uma acomodação, já que era mais fácil importar toda a linha e os processos de produção inovadores do que implantar uma área de pesquisa e inovação dentro da empresa.
O resultado que se observa nos dias atuais é um abismo entre universidades e indústrias que, salvo algumas exceções, não se comunicam e não interagem. Por isso, há fuga contínua de cérebros do país, ou seja, formamos profissionais altamente qualificados com um enorme custo para os cofres públicos, que são utilizados como mão-de-obra qualificada em empresas no exterior, produzindo inovação que depois é vendida de volta para o Brasil.
É um sistema realmente que maximiza o retorno para os outros (custo zero para a produção de talentos, além de agregação de valor ao produto vendido) a nossas custas. É um ciclo vicioso que insiste em não acabar.
Além disso, há o custo do achatamento dos salários, já que uma das formas principais de se recuperar parte das perdas com a baixa produtividade é a redução dos salários. Assim vivemos em uma sociedade esquizofrênica, que é altamente capaz de produzir mão-de-obra de excelência, contudo não sabe o que fazer com ela.
A solução para o problema não é trivial, porém há algumas ações de curto prazo que podem fomentar um ambiente virtuoso. Por exemplo, o governo federal implantou o programa EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) com o objetivo de fomentar a interação empresa-universidade por meio da pesquisa e inovação, cujo reflexo, por exemplo, é o aumento da produção de patentes nacionais. No longo prazo, somente com uma educação de qualidade no nível básico é que será possível aumentar a produtividade, caso contrário, estaremos condenados a criar empregos de baixa qualificação no país com baixos salários, enquanto exportamos nossa mão de obra qualificada.
Thomaz Eduardo Teixeira Buttignol é engenheiro civil, tem mestrado na área de estruturas e doutorado pleno no exterior pelo Politecnico di Milano na área de engenharia estrutural, é professor de estruturas de concreto na Universidade Presbiteriana Mackenzie, CCT, Campinas-SP - imprensa_mackenzie@viveiros.com.br
Com tecnologia inédita no mundo, robô promete aumentar produtividade da indústria automotiva
O projeto EMBRAPII foi apresentado em Joinville, Santa Catarina. Versátil, ele poderá substituir até quatro robôs na linha de montagem deixando o processo mais ágil e econômico.
Com movimentos flexíveis, semelhantes ao de uma cobra, a tecnologia do robô Snake promete revolucionar a indústria automotiva. Diferentemente de outros robôs que, atualmente, operam na linha de montagem, ele é capaz de alcançar locais de difícil acesso em espaços restritos para desempenhar diferentes funções como inspeção de soldas, aplicação de selantes, pinturas e outros tipos de análises de vídeo, por meio de uma câmera instalada em sua extremidade.
O projeto é uma iniciativa da multinacional General Motors que buscou o modelo da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) para viabilizar a ideia. Ele foi desenvolvido por pesquisadores da Unidade EMBRAPII ISI Laser, em Joinville, Santa Catarina. O resultado chamou a atenção da GM americana e já gera interesse de investidores brasileiros.
Segundo o gerente de inovação da GM América do Sul, Carlos Sakuramoto, nesta concepção, o robô é uma solução global inédita. "Existem robôs snake no mundo, mas as características que desenvolvemos nesse projeto são únicas", destaca.
Segundo o executivo, o modelo, que tem a capacidade de ultrapassar obstáculo, poderá substituir até quatro robôs, dependendo da operação. Assim, ele representará economia no processo produtivo, com a redução de ciclos e de área de produção. A previsão é que até o meio do ano ele seja inserido para testes na linha de montagem.
Para o secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Paulo Alvim, o resultado de um projeto concreto que demonstra a integração entre institutos de pesquisas e empresas tem se mostrado positivo para o crescimento da industrial nacional. "A experiência deste projeto envolvendo Instituto Senai de Inovação (ISI), que é uma Unidade EMBRAPII, e a GM é uma ação significativa na área da indústria 4.0. Estamos caminhando para a inserção do setor produtivo em uma economia digital. Em paralelo, o processo garante geração de conhecimento, formação de recursos humanos, patentes, startups, ou seja, todo o conjunto que se espera desta interação em um ecossistema eficiente."
O robô foi idealizado com uma concepção de modularidade, podendo possuir mais ou menos eixos a depender da funcionalidade requerida. Ele se caracteriza pela agilidade e flexibilidade nas suas operações e sua versatilidade garante que ele possa atuar, além da indústria automotiva, na inspeção de máquinas e equipamentos da indústria aeronáutica, petróleo e gás.
De acordo com o diretor de planejamento e gestão da EMBRAPII, José Luis Gordon, não há nada igual no mundo com esta tecnologia de ferramentaria 4.0 e, além dos avanços para a indústria, o incentivo à inovação, por meio deste projeto, possibilita benefícios para alunos de mestrado e doutorado que participam deste trabalho de desenvolvimento.
"O projeto é uma demanda do setor produtivo, sendo realizado aqui no Brasil por uma empresa de grande porte, ou seja, o país está se tornando referência em tecnologias de Manufatura 4.0", argumenta. "Além disso, é interessante que pesquisadores, que são alunos em formação, muitos estão começando abrir startups, ou seja, gera também uma oportunidade para novos negócios".