A cultura da não visão envolve a cegueira deliberada que é um risco corporativo
Redação
A cegueira deliberada, quando líderes escolhem ignorar riscos que já são visíveis, se tornou um dos maiores gatilhos de crises corporativas. As reputações não ruem por surpresa, mas pelo afastamento progressivo entre discurso e prática, alimentado por culturas que silenciam alertas. As organizações maduras são aquelas que escolhem ver, enfrentar incoerências, fortalecer compliance e criar ambientes onde riscos possam ser ditos antes de virarem crise pública.

Patricia Punder –
Há uma característica silenciosa que separa organizações resilientes de organizações vulneráveis, que é a capacidade, ou incapacidade de ver a si mesmas com clareza antes que o mercado as veja. Crises reputacionais graves raramente decorrem de eventos inesperados, falhas técnicas pontuais ou acidentes isolados.
Elas são, quase sempre, o estágio final de um processo que começa muito antes, no qual lideranças escolhem não enxergar riscos que já estavam evidentes e que, em algum momento, exigiriam coragem para serem enfrentados. Esse fenômeno é conhecido como cegueira deliberada e ele não é exceção, não é ausência de informação e nem incapacidade técnica.
Ele se instala quando a organização percebe os riscos e ainda assim escolhe ignorá-los. Não por desconhecimento, mas por conveniência, ver implicaria admitir incoerências, rever decisões já comunicadas, refazer posicionamentos, enfrentar tensões internas ou abrir espaço para conflito estratégico.
E conflito, no mundo corporativo, costuma ser entendido como ameaça, não como instrumento de clareza. Quando a cultura interna aprende que levantar ...